quarta-feira, 24 de junho de 2009

daqui vejo candeeiros suspensos no céu


embarquei a despedida num barco demasiado pequeno para os meus braços

decerto que se irá afundar numa rota traçada sobre uma superfície torcida,
pelo peso de corpos emaranhados. o mundo jamais saberá que lhe disse adeus,
agora esquecido na vastidão, afogado na escuridão baça
e perdido no silêncio de alamedas subaquáticas
fugido do mundo cá em cima e acorrentado à flora de um abismo sem fundo.
mas quem ouviria o meu adeus?
entre a fauna citadina que circula à velocidade da luz
em ruas e áleas perdidas nos olhos de quem lá passa...
o mundo é demasiado rápido para o meu passo
- (6/8) de compasso binário composto -
já ninguém dança assim. já ninguém fala assim.
agora quer-se rapidez nos movimentos.
pouco diz ao mundo,
a elegância e eloquência.
a beleza da calma no céu que, vaidosamente, admira o seu reflexo no rio.
pouco diz ao mundo,
a neblina que se espraia sonolentamente sobre a cidade ao cair do sol,
que se desvanece com o amanhecer de bocas,
esfomeadas por um stress em forma de cafeína.
enquanto lá - no fundo do mar,
onde o bulício dos mercados de rua e dos mercados da bolsa não se ouvem
e o arremessar de uma última voz
- presa na vastidão do negro e gelado manto -
se perde e ninguém sente a sua falta.
eu que tanto tinha para dizer.
os meus braços que tanto tinham para escrever.
as minhas pernas tanto tinham para desbravar nos picos mais altos do mundo.
fui descuidado em julgar que não seria necessária uma embarcação maior,
talvez tenha pecado pela suposta humildade das minhas palavras:
elas que agora servem para ancorar a minha despedida na última fronteira da terra.
um lugar onde o mundo não existe
e que sustém a respiração para que o tempo não dê conta dele.
como dizer que falhei por simples desleixe e menosprezo? -
atiçados pela ilusão de uma realidade
maior do que aquela fantasiada pela minha imaginação.
agora inclino-me sobre um jazigo esquecido entre o silêncio do precipício
e vocábulos amorfos trocados no tecto do mar.

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