o charco preso à beira da estrada contemplava o reflexo do céu e perguntava-se:
porque é que o azul do céu parece sempre mais longe que o cinzento das nuvens?
quando um pneu balbuciante lhe passou por cima, separando-o de si próprio.
gota -
______gota -
___________poça -
_________________gota -
_______estilhaço -
agora que o céu não tem reflexo em mim que faço deitado no chão?
o charco (agora gotas e estilhaços de poças) desaprendeu-se
e sem saber muito bem o que era e para o que servia foi estendendo os braços,
tanto os estendeu que os partiu, e cada novo braço ramificava-se,
e cada novo ramo enchia-se de luz. o charco
agora:
gota -
______gota -
____________ramos de braços -
____estilhaços de poças -
vestiu-se de estradas. rectas e curvas. desceu vales, subiu montes.
afogou fauna e flora na crista das suas ondas em forma de mãos,
cresceu e afundou-se em si mesmo. o charco, preso à beira da estrada,
encontrou um fim último depois de
gota -
___gota -
_______poça -
____________ondas estilhaçadas em braços -
_ ___embrulhadas em mãos sem sol para segurar -