domingo, 29 de junho de 2008

Alentejo

[ escrito em conjunto com Vash ]


A passagem da tarde era tortuosa, o calor arrastava-se pelos cabeços, a sombra estava escondida nas árvores, lugar nenhum estava abrigado do sol desértico. Era a esta hora que Maria e Luís se encontravam no lagar, onde a frescura interior das paredes os envolvia. Não se encontrava vivalma na rua, estavam seguros. Ele despiu-lhe a camisa com sofreguidão, enquanto lhe beijava o pescoço e tentava ensinar as mãos a decorar todo aquele corpo latejante de desejo. O Alentejo em Junho é uma flama fulva que atravessa a pele e queima as superfícies, pintando-as de um âmbar triste e suado. As pessoas recolhem-se para dentro de casa onde ocupam o tempo como podem. Os que vivem perto do litoral vão redescobrir a turquesa do Atlântico domesticado. Os outros estão condenados à pobreza e ao calor obsidiante. Ali, no lagar, era uma fuga que tomava lugar. Corpos adolescentes a descobrirem as cascatas fictícias da juventude com apenas os aracnídeos caseiros a observarem silenciosos.

- O tempo que passei a pensar em ti é todo um outro ser vivo que existe na Terra. – sussurou Luís.

A tarde passou, imperial e vagarosamente, não deixando antever qualquer suspiro do vento na cálida rua. E ela ouviu toda a dissertação de uma enorme melopeia que ele gravava na sua pele. O anoitecer veio atrasado, como de costume nesta altura do ano, e como que pedindo desculpa trouxe consigo uma fresca aragem que convidava as pessoas a sairem dos seus invólucros de cal. Deixaram o lagar, e as mãos que se separavam eram correntes que se partiam. Tinham ambos sempre que chegar a casa antes das dezanove horas, porque ninguém admitia atrasos à sagrada hora de refeição. Enquanto apressavam o passo em direcção ás suas casas, em caminhos separados, seguravam o terço suspenso por um fio no pescoço pedindo ao Messias que segurasse por mais uns minutos os ecos metálicos do sino da igreja. E o filho de Deus acedia sempre ao pedido.

Passaram a noite a pensar num futuro cúmplice longe daquele deserto.

O dia seguinte acordou com um sobressalto. Os gritos enchiam a aldeia. Alguém correra para a praça em pânico e ali se prostrara no chão, chorando convulsivamente. Os aldeões aproximaram-se daquela mãe atormentada, e tentaram perceber o que se passava.
- O Luís... – disse tremulamente a mulher.


Quando Maria acordou, a sua mãe estava sentada num banco ao lado da cama, com a penumbra da janela a iluminar-lhe apenas metade da soturnidade na sua face.



2 comentários:

Anónimo disse...

CADE O RESTO...OU NAO ENTENDI

Anónimo disse...

O meu irmão chama-se Luís..A namorada chama-se Maria...rweird.