[escrito em conjunto com Daniel Paiva]
O dia 27 de Junho tornava-se assim, enquanto a memória dos homens e mulheres que ali viviam perdurasse, uma data angustiada na aldeia. Os raios de sol caíam, secos, a pique sobre o cemitério, a sua luz entrançando-se com a poeira da terra. O Padre proferia salmos arroucados que bailavam funestamente. Maria estava abraçada á cintura da sua mãe, com um vestido negro estéril, chorando como se caísse.A mãe de Luís continha as lágrimas salgadas, o seu esposo assentava a mão sobre a sua camisa preta, aproximando o corpo dela ao seu, sabendo que ela estava contrita e que pensava que de algum modo imperceptível isto era por sua culpa.
Os irmãos de Luís, Carlos e Filomena, não eram capazes de acreditar que o seu irmão ia ser privado de luz para sempre, envolto numa cama de cetim. Carlos congeminava já um plano para apanhar quem quer que tenha morto o seu irmão. Começou por se tentar lembrar de alguém que não gostasse de Luís - havia obviamente os colegas de escola com quem tinha rivalidades frívolas, mas nada de sério, nada ao ponto de assassinar. Tentou então pensar fora do seu círculo de amigos e houve uma pessoa que lhe assaltou o pensamento quase instantaneamente: Vasco Pereira Trindade, pai de Maria. Este fingia desconhecer o romance de Luís com a sua filha, mas na verdade estava a par de tudo e nunca aceitou bem o seu relacionamento. E enquanto Carlos se ocupava em manter a mente a trabalhar raivosamente Filomena tentava não pensar em nada, mas sempre que fechava os olhos imagens do seu irmão saltavam na sua memória. Não tinha como se esconder, não era tão vingativa como o seu irmão Carlos e com certeza não era como as suas tias que choravam por cima do caixão deixando vários rastos de pequenas cascatas no ébano. A tristeza de Filomena não cabia dentro de si, nem dentro deste dia de Junho, apertou o peito na esperança de a tornar mais pequena e menos espaçosa, mas ocupava-lhe todo o corpo, ameaçando rasgar-lhe a pele. Estes pensamentos escorriam nas sinapses dos enlutados de um modo tão substancioso que quase era possível ouvi-los como se fossem vozes.
O Padre, nas suas vestes brancas que baloiçavam conforme a brisa tépida, terminou a liturgia. O caixão principiou a ser enterrado.
O dia 27 de Junho tornava-se assim, enquanto a memória dos homens e mulheres que ali viviam perdurasse, uma data angustiada na aldeia. Os raios de sol caíam, secos, a pique sobre o cemitério, a sua luz entrançando-se com a poeira da terra. O Padre proferia salmos arroucados que bailavam funestamente. Maria estava abraçada á cintura da sua mãe, com um vestido negro estéril, chorando como se caísse.A mãe de Luís continha as lágrimas salgadas, o seu esposo assentava a mão sobre a sua camisa preta, aproximando o corpo dela ao seu, sabendo que ela estava contrita e que pensava que de algum modo imperceptível isto era por sua culpa.
Os irmãos de Luís, Carlos e Filomena, não eram capazes de acreditar que o seu irmão ia ser privado de luz para sempre, envolto numa cama de cetim. Carlos congeminava já um plano para apanhar quem quer que tenha morto o seu irmão. Começou por se tentar lembrar de alguém que não gostasse de Luís - havia obviamente os colegas de escola com quem tinha rivalidades frívolas, mas nada de sério, nada ao ponto de assassinar. Tentou então pensar fora do seu círculo de amigos e houve uma pessoa que lhe assaltou o pensamento quase instantaneamente: Vasco Pereira Trindade, pai de Maria. Este fingia desconhecer o romance de Luís com a sua filha, mas na verdade estava a par de tudo e nunca aceitou bem o seu relacionamento. E enquanto Carlos se ocupava em manter a mente a trabalhar raivosamente Filomena tentava não pensar em nada, mas sempre que fechava os olhos imagens do seu irmão saltavam na sua memória. Não tinha como se esconder, não era tão vingativa como o seu irmão Carlos e com certeza não era como as suas tias que choravam por cima do caixão deixando vários rastos de pequenas cascatas no ébano. A tristeza de Filomena não cabia dentro de si, nem dentro deste dia de Junho, apertou o peito na esperança de a tornar mais pequena e menos espaçosa, mas ocupava-lhe todo o corpo, ameaçando rasgar-lhe a pele. Estes pensamentos escorriam nas sinapses dos enlutados de um modo tão substancioso que quase era possível ouvi-los como se fossem vozes.
O Padre, nas suas vestes brancas que baloiçavam conforme a brisa tépida, terminou a liturgia. O caixão principiou a ser enterrado.
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