sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Petrus Castrus - Ascenção e Queda (Crítica)

Os Petrus Castrus foram formados em 1971 pelos irmãos Castro (Pedro na voz e guitarra e José no baixo). A eles juntaram-se Júlio Pereira na guitarra e Rui Reis no teclado (ex-membros dos PlayBoys) e João Seixas na bateria. Lançaram dois EP’s (Marasmo e Tudo Isto E Mais), três singles (A Bananeira, Cândida e Agente Altamente Secreto) e dois LP’s (Mestre e Ascensão & Queda), antes do seu fim em 1980.

Mestre, o primeiro LP datado de 1973, usava como letras alguns poemas de Bocage, Alexandre O’Neill, Ary dos Santos, Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner Anderson. A Comissão de Censura confiscou-lhes o disco por três meses devido ao facto terem gravado os poemas destes poetas.

Já após o 25 de Abril de 1974, lançam o seu segundo LP. O albúm Ascensão & Queda conta com as contribuições de Fernando Girão, Rui Serrão, Lena d'Água e Nuno Rodrigues. A influência do estado político em que a banda é formada está à vista nesta obra.

Ascenção & Queda é um trabalho conceptual que visa contar uma história musicalmente. O formato das músicas é em si bastante teatral. O canto narrativo alterna com o discurso directo em tom de canto por todo o albúm, acompanhado geralmente por poucos instrumentos ao mesmo tempo, ainda assim com riffs bastante complexos, num tom bastante dramático e épico. As músicas, compostas por pequenos segmentos de música independentes uns dos outros apenas ligados pelo contar de uma história, expandem-se entre cinco e sete minutos. A diversidade musical é notável, podendo-se encontrar teclados, cravo, sintetizadores, guitarras, pianos, baixo, bateria e percussão. A música progride bem, sem excessos. Não sendo uma obra genial, é um trabalho musical interessante que merece alguma atenção.

A história de Ascenção & Queda fala de uma revolução num reino que se assemelha a um medieval. Conta a história de um libertador/salvador que acaba por se corromper e cair, e é inevitável não se colocar a hipótese de isto ser uma metáfora para a política do Estado Novo. Embora se possa também identificar na história uma noção de ciclo sem fim (rei velho e corrupto é substituído por jovem salvador que acaba por se tornar velho e corrupto que será um dia substituído por um jovem).

Quando foi editado, este albúm foi um fracasso comercial e foi arrasado pela crítica da sua época. Recentemente, foi reeditado por uma empresa sul-coreana, e tem sido objecto de maior atenção por parte dos amantes de música progressiva.

4 comentários:

Eduardo César disse...

"Ó das casas, ó da aldeia, venham todos, está ali um homem a falar, a falar, a falar..."

Unknown disse...

Este disco tournou-se provavelmente no mais caro da música portuguesa. O CD custará à volta de 60 € e o vinyl 10 vezes mais (para quem o conseguir encontrar).

Se a obra não fosse genial os preços seriam certamente outros.

Elemento Musical disse...

Um dos melhores discos de sempre da música portuguesa. Paralelamente a este só mesmo o Homo Sapiens dos Saga.

Anónimo disse...

pasárgada (saldades do rio antigo) do disco "Mestre" é uma adaptaçào do poema homônimo do poeta brasileiro Manoel Bandeira.